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Perspectivas

Por uma investigação de base sobre as mortes de Nick Acker e Russell Scruggs Jr., trabalhadores dos Correios dos EUA! 

Publicado originalmente em inglês em 19 de novembro de 2025

A Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB) faz um chamado por uma investigação independente – conduzida por trabalhadores de base – sobre as mortes de Nick Acker e Russell Scruggs Jr. em duas instalações diferentes dos Correios dos Estados Unidos (USPS) nas últimas duas semanas. Pedimos aos trabalhadores dos Correios que tenham informações relevantes que se prontifiquem a prestar depoimento. Isso é necessário para expor as condições brutais enfrentadas pelos trabalhadores dos Correios, que fazem parte do matadouro industrial que se tornou o cotidiano dos trabalhadores nos Estados Unidos e no mundo.

Nick Acker e Russell Scruggs Jr.

Em 8 de novembro, no Centro de Distribuição de Detroit, em Michigan, Nick Acker foi morto por uma máquina de triagem de correspondência na qual ele estava realizando manutenção. Seu corpo só foi recuperado oito horas depois, somente após sua esposa ter ido buscá-lo. Os trabalhadores informaram que havia sido apresentada uma reclamação sobre a máquina, cujos recursos de segurança teriam sido desativados para manter as operações em funcionamento.

Em 15 de novembro, Russell Scruggs Jr. morreu após cair e bater a cabeça no Centro de Processamento e Distribuição de Palmetto, na Geórgia. Os trabalhadores afirmam que a falta de sinal de celular nas instalações e a ausência de protocolos de emergência dentro da unidade contribuíram para sua morte por causa da demora em prestar-lhe atendimento médico.

Em ambos os casos, a administração manteve as operações das instalações em funcionamento, de acordo com relatos dos trabalhadores.

Essas tragédias evitáveis revelaram as condições brutais nos Correios dos EUA. Os trabalhadores de Detroit afirmam que a instalação é uma “armadilha mortal”. Os trabalhadores de Palmetto também denunciaram a morte de Eric Smith, de 59 anos, em junho, bem como dois suicídios recentes fora do local de trabalho. No ano passado, Shannon Barnes, de 48 anos, também morreu na instalação.

Essas mortes são apenas algumas das mais recentes em uma série interminável de desastres nos locais de trabalho nos Estados Unidos. O acidente com o avião de carga da UPS em 4 de novembro em Louisville, no Kentucky, matou 14 pessoas. Uma recente explosão catastrófica em uma fábrica de munições no Tennessee matou 16 pessoas. Um vazamento de amônia em 14 de novembro em Oklahoma levou 34 pessoas ao hospital. Uma explosão na siderúrgica Clairton, perto de Pittsburgh, em agosto, matou duas pessoas e feriu 10.

Houve pelo menos cinco mortes entre os trabalhadores dos Correios este ano. Isso inclui dois carteiros, Dan Workman, de Grand Junction, no Colorado, e Jacob Taylor, de Dallas, no Texas, em incidentes aparentemente relacionados ao excesso de calor.

A AOI-CB já iniciou uma investigação sobre a morte do trabalhador da indústria automotiva Ronald Adams Sr., que trabalhava na fábrica de motores da Stellantis de Dundee, no sudeste de Michigan. Adams morreu esmagado enquanto realizava manutenção em circunstâncias aparentemente semelhantes às que causaram a morte de Acker. Uma reunião com as conclusões iniciais da investigação foi realizada em 27 de julho, onde foi relatado que a violação dos protocolos de segurança pela gerência, uma medida elementar de segurança, provavelmente desempenhou um papel significativo na morte de Adams.

Também em junho, o Comitê de Base dos Trabalhadores dos Correios dos EUA, que faz parte da AOI-CB, fez um chamado para que fosse aberta uma investigação sobre as mortes de Workman e Taylor.

O trabalho da AOI-CB sobre essas mortes deve ser ampliado. Não se trata de um exercício jornalístico, mas de um esforço para armar os trabalhadores com o conhecimento necessário para se defenderem e passarem à ofensiva contra o regime de ditadura corporativa nos locais de trabalho, que torna essas mortes evitáveis.

O matadouro é encoberto pela mídia corporativa e pela burocracia sindical, que nada fez para proteger os trabalhadores e funciona como um braço da administração. O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios dos EUA permaneceu em silêncio sobre as mortes deste mês. Os trabalhadores relatam que ele é cúmplice da morte de Acker devido à reclamação em aberto contra a empresa, apresentada apenas algumas semanas antes.

Essa situação é uma experiência universal da classe trabalhadora. Na UPS, o sindicato Teamsters está ajudando a realizar dezenas de milhares de demissões. Na indústria automotiva, o sindicato United Auto Workers (UAW) não fez nada a respeito da morte de Adams, enquanto milhares de trabalhadores são demitidos sem que ele levante um dedo.

É por isso que a investigação deve ser conduzida pelos próprios trabalhadores em uma investigação de base. Pressionar a burocracia não resultará em ação, pois ela mesma constitui parte do problema.

Uma questão crítica é o papel desempenhado pela redução implacável de custos. Os Correios dos EUA estão no meio do programa de reestruturação “Delivering for America” (DFA), iniciado no primeiro mandato de Trump e continuado por Biden, com o objetivo de tornar os Correios lucrativos, seguindo o modelo da Amazon, e preparar o terreno para sua eventual privatização. Isso envolve o fechamento de 1.000 agências, o agrupamento de dezenas de milhares de rotas de entrega e a concentração das operações em um número menor de grandes instalações automatizadas que exigem muito menos trabalhadores.

Novos sistemas invasivos de monitoramento para carteiros urbanos estão sendo usados para punir automaticamente os trabalhadores por “situações de inatividade”. Isso contribuiu para a morte do carteiro Eugene Gates, de Dallas, em 2023. Entre os carteiros rurais, os trabalhadores há muito são forçados a trabalhar em um tipo de sistema de pagamento por trecho percorrido. A reavaliação do “valor” de suas rotas reduziu o salário de dois terços deles, muitas vezes em US$ 10.000 e até US$ 20.000 por ano.

O DFA é apoiado pelos sindicatos da Associação Nacional dos Carteiros (NALC) e da Associação Nacional dos Carteiros Rurais (NRLCA), que também assinaram acordos paralelos para implementar cortes salariais e monitoramento, apesar da oposição dos trabalhadores.

A implementação do DFA tem sido caótica, com resultados de exames médicos e outras correspondências importantes atrasadas por semanas. De acordo com um funcionário de Palmetto, a administração limpa as instalações quando a mídia ou congressistas aparecem em resposta à indignação pública, mas depois tudo volta ao “normal”.

Os Correios estão sob ataque em todo o mundo. Cortes massivos estão em andamento no Canadá e os trabalhadores dos Correios brasileiros enfrentam a ameaça de cerca de 10.000 demissões como parte de um plano de privatização. No Reino Unido e na Alemanha, os Correios foram privatizados há anos.

As mesmas condições se repetem em todos os setores. As empresas americanas cortaram 1,1 milhão de empregos este ano, o maior número desde a Grande Recessão. As corporações têm planos de usar a IA e outras tecnologias para eliminar dezenas de milhões de empregos. Há uma contradição fundamental no uso dessas tecnologias avançadas: ao invés de eliminarem mão de obra e retrocederem as condições de trabalho ao século XIX, elas poderiam ser usadas para enfrentar a crise do custo de vida e tornar os locais de trabalho mais seguros.

Esse processo é possibilitado pela fusão total entre a oligarquia corporativa e o governo. David Steiner, o novo diretor-geral dos Correios dos EUA, é membro do conselho da FedEx. David Keeling, o novo chefe da OSHA (Administração de Segurança e Saúde Ocupacional), é ex-chefe de “segurança” da UPS e da Amazon, ambas empresas notórias por pagarem salários baixos e explorarem seus funcionários. A classe dominante está fechando agências de segurança do trabalho, cortando vale-refeição e Medicaid para dezenas de milhões de pessoas e destruindo tudo o que, mesmo que remotamente, protege os trabalhadores contra acidentes e a miséria.

A história dos Correios mostra que a resistência depende da iniciativa da base de trabalhadores. A greve nacional dos Correios de 1970 nos EUA foi uma greve espontânea, que desafiou os burocratas sindicais contra os ataques anteriores do governo Nixon.

O espírito de resistência deve encontrar novos meios de expressão. Novas organizações – comitês de base – devem ser construídas, combinando controle e organização democráticos com uma rebelião contra o aparato sindical. Isso deve se basear em uma estratégia de união da classe trabalhadora em todo o mundo para lutar pelo que os trabalhadores precisam urgentemente, e não pelo que a administração está disposta a oferecer.

No domingo, 16 de novembro, a AOI-CB realizou uma reunião sobre demissões em massa, na qual participaram trabalhadores de diversos setores. No informe de abertura, Tom Hall, do WSWS, explicou que as demissões faziam parte de uma “guerra contra a classe trabalhadora”. No dia seguinte, segunda-feira, a AOI-CB emitiu uma declaração explicando que “A resposta da classe trabalhadora deve ser o desenvolvimento de uma rede de comitês de base em todos os setores e locais de trabalho, para fazer valer a força da classe trabalhadora contra o poder institucionalizado da oligarquia”.

Chegou a hora de tomar uma posição. Uma investigação independente sobre as mortes de Nick Acker, Russell Scruggs Jr. e outros trabalhadores dos Correios será a ponta de lança da luta para fortalecer os comitês de base, assumindo o controle das condições de segurança, garantindo o direito à vida, à saúde e à segurança no trabalho e acabando com a ditadura da produção para o lucro.

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